Nada podemos saber, falar ou escutar da oração que não seja algo vivido ou experimentado. Em Teresa, mestra da oração, é estreita e forte a relação entre experiência e oração. Sua vida de oração foi determinada por grandes momentos: o encontro espontâneo com Deus, intercalando-se por um tempo de oração difícil e de relações tensas, e que se encerra em um encontro acalentador e plenificante.
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Nada podemos saber, falar ou escutar sobre a oração sem que esta seja, antes de mais nada, uma realidade vivida e experimentada. A oração não é apenas um exercício intelectual ou uma prática mecânica; é um mergulho na profundidade do nosso ser, onde nos encontramos com Deus de maneira íntima e transformadora. Esse entendimento encontra na vida de Santa Teresa de Ávila um exemplo claro e poderoso.
A Experiência e a Oração
Em Santa Teresa, mestra da oração e doutora da Igreja, há uma relação estreita entre a sua experiência pessoal e a sua vida de oração. Sua jornada espiritual não foi uma linha reta de paz e consolações. Pelo contrário, foi marcada por altos e baixos, por momentos de secura espiritual e dificuldades, mas também por encontros profundamente consoladores com Deus. Assim, ela ensina que a oração é uma vivência que nos forma e transforma, independentemente das dificuldades que possamos enfrentar ao longo do caminho.
A oração, segundo Santa Teresa, passa por várias etapas. No início, pode parecer árdua e até desinteressante, mas, à medida que a alma persevera, ela começa a experimentar as consolações divinas, culminando em uma união íntima com Deus. Teresa descreve isso como um “encontro acalentador e plenificante”, onde a alma, depois de atravessar os desertos de secura e tribulação, encontra paz e repouso em Deus.
Como ela mesma diz em sua obra O Caminho de Perfeição: “Quem começa a ter oração deve considerar que se dispõe a uma grande empresa e que empreende nada menos que sustentar uma guerra contra todos os demônios e, pior ainda, contra os próprios amores desordenados”. Essa luta interior que Teresa descreve reflete bem a tensão espiritual que ela viveu durante grande parte de sua caminhada.
O Encontro Espontâneo com Deus
Santa Teresa também relata os momentos em que o encontro com Deus acontece de forma inesperada e espontânea, mesmo em meio às dificuldades. Ela fala desses momentos em sua autobiografia, Livro da Vida, onde descreve como Deus, de repente, se manifesta à alma, surpreendendo-a com uma presença que não pode ser ignorada. É o Deus que se faz presente, não pelos méritos humanos, mas pela sua infinita misericórdia e desejo de habitar no coração de seus filhos.
“Não são vossas forças que vos salvarão”, diz a Escritura (1 Sm 2,9). Essa verdade está no centro da experiência de Santa Teresa: é Deus que toma a iniciativa no encontro, é Ele quem chama e transforma a alma, mesmo quando esta se encontra perdida ou mergulhada em tensões e dúvidas.
O Tempo de Oração Difícil
Teresa também viveu tempos de grande aridez espiritual, o que chama de “a noite escura da alma”. Durante esses períodos, parecia-lhe que Deus estava distante e que as suas orações não eram ouvidas. Contudo, mesmo nesses momentos, Teresa não desistiu. Ela ensinava que, apesar das dificuldades, é importante perseverar na oração, confiando que Deus está presente, mesmo quando não o sentimos.
Em suas palavras: “É, portanto, coisa certíssima que nos deixa Deus nas tentações e aridezes; e por que? Para que saibamos que Sua Majestade não está obrigada a dar-nos sempre o gosto, mas que Ele é Senhor e nós servos”. Esses momentos de secura espiritual, embora dolorosos, fazem parte da vida de oração e são oportunidades de crescimento e purificação.
O Encontro Acalentador e Plenificante
Depois dos tempos de secura, Teresa fala de um encontro com Deus que é plenitude. Deus não se faz esperar para sempre, mas, ao final das provações, a alma experimenta uma união tão profunda e consoladora que ela se sente plena, completa em Deus. Esse momento culminante, segundo Teresa, é a verdadeira recompensa de quem persevera. Esse encontro é descrito como uma experiência de amor inefável, onde o ser humano finalmente repousa no seu Criador, experimentando a verdadeira paz que o mundo não pode dar (cf. Jo 14,27).
Santa Teresa usa a imagem do “castelo interior”, onde, após passar por várias moradas, a alma finalmente chega ao centro, onde Deus habita. Essa metáfora revela como a experiência espiritual de Teresa foi marcada por um progresso constante, apesar dos desafios. Cada etapa da oração leva a alma para mais perto de Deus, até que ela chegue a uma união completa e acalentadora.
A Oração como Experiência Viva
Portanto, a oração em Teresa não é uma teoria ou uma prática distante. Ela é profundamente vivida e experimentada, uma caminhada com Deus que passa por desertos e montanhas, por noites escuras e manhãs de luz. A vida de Santa Teresa nos ensina que não podemos saber, falar ou escutar sobre oração sem que ela seja algo vivido, experimentado, e acima de tudo, perseverado.
Como diz São Paulo: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (1 Cor 2,9). Teresa nos convida a mergulhar nessa realidade, a viver a oração como encontro profundo e transformador com o Deus vivo.